Madalena Freire
_ O que é intervir? – O que é encaminhar? – O que é devolver? Toda ação
educativa tem o seu papel principal na intervenção, no encaminhamento e na
devolução: pois esses são constitutivos do ato de aprender e ensinar. O que
varia, é como cada concepção de educação concebe o que é ensinar, o que é
aprender, o que é conhecer e, portanto, qual o exercício da intervenção, do
encaminhamento e da devolução. Para uma concepção que busca uma relação
democrática, o ato de intervir fundamenta, prepara, aquece, instiga, provoca,
impulsiona o processo de aprendizagem e a construção do conhecimento. Através
do planejamento de suas intervenções, suas perguntas ao grupo, o educador lança
questionamentos que instiga a todos o pensar, o refletir, duvidar sobre o que
sabem: para assim, no mal-estar provocado (do choque entre o velho e o novo),
possam iniciar a construção do que ainda não conhecem. Tanto educador como
educando fazem, exercitam cada um em sua função, intervenções, encaminhamentos
e devoluções. Para construir a aula, juntamente com o educador, o educando
necessita exercitar suas intervenções, propor encaminhamentos e fazer
devoluções tanto para seus pares quanto para o educador. Na construção de suas
intervenções, o educador necessita ter claro seu foco, dentro do conteúdo que
vai priorizar no seu ensinar. A delimitação do conteúdo possibilita objetivar,
também, o foco das intervenções. São as intervenções que sedimentam o aprendizado de perguntar,
questionar, que provoca o aluno a pensar- alicerce da aprendizagem
significativa e construção do novo.Portanto, primeiro movimento do ensinar, na
construção da aula, está centrado no planejamento das hipóteses de intervenções
por parte do educador. É neste exercício que o educador vai estruturando seu
aprendizado de aprender a perguntar. São as intervenções que vão alicerçando o
“desembrulhar” do objeto em estudo, do conteúdo. Elas vão possibilitando que
cada um socialize suas dúvidas, seus saberes, e desse modo preferem constatar,
tanto o que já sabem como principalmente o que não conhecem. Foco do desafio do
educador no seu ensinar, encontra-se, justamente, nesta segunda constatação.
Para isso deve construir seus encaminhamentos, que constitui o segundo
movimento na construção da aula. Os encaminhamentos são as propostas de
atividades dentro da rotina da aula, as tarefas, os passos a seguir em determinada atividade, a mudança
da pauta exigiu um novo encaminhamento. É através de seus encaminhamentos que o
educador direciona, organiza, delimita o caminho do pensar, sobre o conteúdo de
estudo. Os encaminhamentos oferecem espaço à interação do sujeito com o
objetivo do conhecimento. Objeto agora “desembrulhado”, onde o desafio é
estudá-lo, na intimidade individual e/ou coletiva das atividades, para
transformá-lo em conteúdo funcional na prática de cada um. São as intervenções
e os encaminhamentos que vão construindo os movimentos de devolução. A
devolução apazígua o mal estar, o confronto com o não sei, porque sistematiza
organizadamente as informações os que o grupo necessita, oferece esclarecimentos
teórico para a compreensão do que vinha sendo trabalhado desde as primeiras
intervenções. Pois, quando o educador começa a fazer suas intervenções ele deve
ter claro onde quer chegar em sua devolução. De certa forma, portanto, a
devolução é o clímax, o coroamento do que o educador trabalha para atingir
no seu ensinar. Ele ensina para fazer devoluções e ao mesmo tempo porque luta
por isso, tem que construí-lo mediado por suas intervenções e encaminhamentos.
Dessa maneira cada ingredientes desses, depende um do outro e são construídos
na dialogicidade do processo. Pois, logo após a a conquista de determinado
conteúdo apreendido, o educador já vislumbra nossas intervenções que, outra vez,
deflagrarão novas inquietações na busca do que constatam que ainda faltam
conhecer. E a espiral não tem fim...
Vale salientar que esses três ingredientes podem ser exercitados em
diferentes linguagens: verbal, plástica, gestual, musical. Em todas essas linguagens
o pensar sobre, pode ser exercitado. Ele não se dá somente na linguagem verbal.
Contudo a linguagem verbal tem seu papel fundamental na socialização do
pensamento, apoiando as linguagens não verbais. Temos, também, a nível da
intervenção e do encaminhamento a possibilidade de utilizarmos materiais
diversificados. Podemos criar a nível espacial, onde pela arrumação do espaço,
questionamos determinada concepção de educação, sua postura pedagógica.
Provocamos o pensar sobre, a partir da leitura de uma intervenção espacial. A
socialização do lido é que se apoiará na linguagem verbal. Também podemos
construir encaminhamentos que trabalham conjuntamente materiais e espaço.
Quando propomos uma tarefa onde o desafio é desenha com lápis, de olhos fechados,
a imagem vista em folhas de tamanhos variados, trabalhamos estes dois focos ao
mesmo tempo. Ou ainda: a reflexão sobre o tema em estudo poderá ser trabalhada
em material plástico ou tridimensional, mas numa ou em outra o espaço
trabalhado deverá ter proporções minúsculas, etc.
Devoluções estéticas (obras de arte) enriquecem e possibilitam
ampliação de pensamento, pois estes três ingredientes são exercitados em
compartimentos estanques. O sujeito é uma totalidade, no exercício de
comunicação utilizando-se de várias linguagens, onde estes ingredientes no seu
ensinar re-intercruzam no movimento dialógico de construção do processo e
conquista do produto. Não há ação educativa que prescinda deles, pelo simples
fato de que toda ação educativa é diretiva. Direciona-se para a conquista de um
determinado produto de aprendizagem. Pois todo educador ensina e enquanto
ensina aprende a fazer suas intervenções, encaminhamentos e devoluções.
*In Avaliação e Planejamento: A
prática educativa em questão. Instrumentos Metodológicos II, 1997,p.9.
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